O cenário global de comércio voltou a tumultuar os mercados financeiros, desta vez afetando diretamente o universo das criptomoedas. O Bitcoin, líder absoluto entre os ativos digitais, sofreu uma nova queda após o avanço das medidas tarifárias promovidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em sua recente cruzada protecionista.

Na terça-feira, o preço do Bitcoin recuou para abaixo dos US$ 77 mil, em meio à crescente apreensão sobre o impacto de tarifas adicionais impostas a dezenas de países. A movimentação acontece às vésperas da entrada em vigor de taxas específicas e recíprocas, anunciadas por Trump na última semana como parte do chamado “Dia da Libertação” — um marco de sua nova ofensiva comercial.
Segundo comunicado da Casa Branca, além de uma tarifa geral de 10% já em vigor sobre todas as importações, produtos oriundos da China passarão a pagar um adicional de 50%, elevando o imposto total a impressionantes 104%. A secretária de imprensa Karoline Leavitt defendeu a decisão, afirmando que a resposta chinesa — com tarifas retaliatórias de 34% — agravou ainda mais o conflito comercial.
“Foi um erro da China retaliar”, declarou Leavitt em coletiva.
Embora o Bitcoin tenha caído aproximadamente 2% nas últimas 24 horas, sendo negociado por volta de US$ 76.500, o impacto imediato foi menos severo do que em outras ocasiões semelhantes. O ativo já havia recuado para US$ 74.700 na segunda-feira, após atingir US$ 80 mil na semana anterior, de acordo com dados da CoinGecko.
Para David Lawant, diretor de pesquisa da plataforma de liquidez FalconX, o comportamento do mercado pode indicar um momento de transição.
“A resposta do preço foi relativamente moderada, o que sugere que estamos entrando em uma fase de lateralização ou até mesmo de enfraquecimento contínuo”, analisou.
Enquanto isso, nos bastidores diplomáticos, o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou na rede X que os Estados Unidos podem iniciar negociações com mais de 50 nações impactadas pelas novas tarifas. Em entrevista à Fox News, ele ponderou que parte dessas conversas pode se estender até junho.
Alguns países já se anteciparam às medidas. O Canadá, por exemplo, anunciou a implementação de tarifas de 25% sobre determinados modelos de veículos a partir da meia-noite. Em uma publicação nas redes sociais, o primeiro-ministro canadense Mark Carney foi direto:
“O presidente Trump iniciou essa crise comercial — e o Canadá está respondendo com determinação e firmeza.”
A escalada da guerra tarifária também reverberou no mercado tradicional. Os principais índices acionários dos Estados Unidos fecharam o dia em baixa, após uma abertura otimista. O Nasdaq caiu 2,1%, enquanto o S&P 500 registrou retração de 1,6%, reflexo dos temores sobre o impacto das tarifas no consumo interno e na economia global.
Ainda esta semana, os investidores deverão acompanhar de perto a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos EUA, prevista para quinta-feira. O indicador poderá oferecer sinais valiosos sobre os efeitos iniciais do novo regime comercial sobre a inflação.
Com o avanço da política protecionista de Trump, o mercado segue em compasso de espera, buscando entender até onde irão os desdobramentos dessa nova fase da guerra comercial — e como ela poderá redefinir as dinâmicas econômicas e tecnológicas no curto e médio prazo.