A tensão crescente entre Estados Unidos e China voltou a abalar os mercados mundiais, e as criptomoedas estão entre os ativos mais afetados. A entrada em vigor das novas tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos chineses desencadeou uma onda de liquidações no setor cripto, resultando em perdas expressivas para investidores e pressionando as principais moedas digitais para níveis não vistos há meses.
Nas últimas 24 horas, o Bitcoin sofreu uma retração de 4,1%, sendo cotado a aproximadamente US$ 76.550, enquanto o Ethereum apresentou queda ainda mais acentuada, desvalorizando 8,3% e alcançando seu patamar mais baixo desde março de 2023. Esse movimento coincide com o início da nova política tarifária dos Estados Unidos, que entrou em vigor logo após a meia-noite de terça-feira, acirrando a chamada “guerra comercial” com a China.
O cenário é de instabilidade generalizada. Dados da CoinGlass indicam que cerca de US$ 411 milhões foram liquidados apenas no último dia, refletindo o sentimento de incerteza entre os investidores. O Bitcoin chegou a flertar com o nível de US$ 75 mil poucas horas antes do início das novas sanções, ampliando um ciclo de baixa que já eliminou cerca de 30% do valor da moeda desde seu pico em janeiro — quando atingiu impressionantes US$ 109 mil, impulsionado pelas expectativas do mercado antes da posse de Trump.
O impacto não se limitou às líderes de mercado. Altcoins como Dogecoin, Solana e Cardano também enfrentaram perdas expressivas. A Dogecoin registrou uma queda diária de 16,3%, enquanto Solana recuou 18% e Cardano, 23,7% apenas na última semana, segundo dados da CoinGecko.
“Desde fevereiro, os investidores enfrentam um cenário extremamente desfavorável, com mais de US$ 1,2 trilhão evaporando do mercado cripto”, afirma Pav Hundal, analista-chefe da corretora Swyftx. “O mercado está sedento por um ponto de virada no sentimento — algo que interrompa essa espiral negativa.”
Essa turbulência no mercado de criptomoedas ecoa o comportamento de outros ativos globais. As bolsas asiáticas amanheceram em queda acentuada nesta quarta-feira: o índice Nikkei 225, do Japão, caiu 2,6% ao meio-dia, enquanto o ASX 200, da Austrália, recuou 2%. Já nos Estados Unidos, o S&P 500 acumulou perdas de quase 20% desde meados de fevereiro, aproximando-se de um território considerado de “mercado em baixa”.
Segundo Hundal, o mundo está adentrando uma nova fase de protecionismo comercial, cujas consequências ainda são difíceis de mensurar.
“O problema é a incerteza. Não sabemos como essas medidas vão evoluir nem se haverá uma saída diplomática à vista. O foco agora será a habilidade dos EUA em renegociar seus acordos econômicos.”
A insegurança também se espalha pelos mercados de renda fixa. Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos dispararam entre 4,2% e 4,4% na noite de terça-feira — uma das maiores altas intradiárias registradas desde a Segunda Guerra Mundial. Para agravar o cenário, o leilão de notas de três anos realizado na mesma data atraiu o menor nível de interesse desde o final de 2023, sinalizando um possível esfriamento no apetite internacional pela dívida americana.
Com o acirramento das tensões geopolíticas e comerciais, investidores de todos os setores se veem diante de um ambiente de extrema volatilidade e imprevisibilidade. No setor de criptoativos, o impacto é direto: sem uma mudança clara no cenário macroeconômico, o mercado pode continuar vulnerável a quedas abruptas.
Para o futuro, analistas apontam que qualquer reversão desse quadro dependerá menos dos fundamentos do mercado cripto e mais da evolução do embate político entre as grandes potências. Até lá, cautela será palavra de ordem para os investidores.
