
Em meio a tensões comerciais prolongadas entre Estados Unidos e China, uma reviravolta estratégica do ex-presidente Donald Trump provocou alívio nos mercados globais. Ao suspender tarifas sobre uma série de produtos tecnológicos, a medida teve repercussões além do setor industrial — refletindo de forma significativa no comportamento das criptomoedas, que acompanharam a recuperação das ações tecnológicas.
A decisão, anunciada em 9 de abril, promoveu uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas e reduziu as alíquotas para 10% sobre países que não responderam com medidas semelhantes contra os Estados Unidos. Entre os produtos beneficiados estão smartphones, chips, computadores, modems, semicondutores e outros componentes eletrônicos essenciais à cadeia produtiva da tecnologia.
Essa suspensão tarifária foi recebida como um sinal de trégua na guerra comercial que vinha prejudicando gravemente grandes empresas do setor e pressionando os mercados de ações. Investidores, que temiam o impacto generalizado nas cadeias de suprimentos globais, reagiram positivamente. O índice S&P 500, por exemplo, registrou um salto de mais de 10% no mesmo dia do anúncio.
No universo cripto, o efeito foi igualmente expressivo. O Bitcoin, principal ativo digital do mercado, ultrapassou a marca dos US$ 85 mil em 12 de abril, acumulando uma valorização de 9% desde o início da flexibilização tarifária. A correlação cada vez mais observada entre os ativos digitais e o desempenho das ações de tecnologia reforça a sensibilidade do mercado cripto a mudanças na política macroeconômica.
Especialistas avaliam a medida como parte de uma estratégia de negociação. O analista macroeconômico Raoul Pal destacou que as tarifas sempre funcionaram como instrumento de barganha na disputa entre Washington e Pequim. Já o entusiasta do Bitcoin Max Keiser, embora veja benefícios momentâneos, acredita que a suspensão das tarifas não será suficiente para conter a escalada nos rendimentos dos títulos do Tesouro ou reverter a tendência de alta das taxas de juros nos Estados Unidos.
Keiser ainda apontou que a confiança nos títulos norte-americanos e no próprio dólar vem enfraquecendo gradualmente, independentemente de concessões comerciais. Em linha com essa análise, os rendimentos dos títulos de 10 anos chegaram a 4,5% em 11 de abril, refletindo o nervosismo dos investidores diante da imprevisibilidade da política comercial norte-americana.
Para o mercado de tecnologia, no entanto, o alívio veio em boa hora. Uma publicação da Kobeissi Letter destacou que as gigantes do setor têm potencial para emergir fortalecidas após o período de instabilidade, aproveitando a suspensão das tarifas para retomar crescimento e investimento.
A flexibilização tarifária anunciada por Trump trouxe um breve respiro aos mercados e revelou como decisões políticas podem rapidamente alterar o cenário econômico global. Enquanto o setor de tecnologia comemora a redução de pressões externas, o ecossistema de criptomoedas surfa na mesma onda de otimismo, impulsionado por maior apetite ao risco. Ainda assim, os desdobramentos dessa trégua temporária permanecem incertos, e o futuro dependerá da capacidade dos Estados Unidos e da China de encontrarem um terreno comum em suas disputas comerciais. Para investidores e analistas, a volatilidade continua sendo a única certeza em tempos de guerra econômica.