
Em meio à crescente tensão nas relações comerciais entre grandes potências, os investidores do mercado cripto reagiram com cautela. Uma retirada maciça de recursos dos fundos de Bitcoin à vista nesta semana sinalizou uma mudança drástica no apetite ao risco. O cenário foi desencadeado por um novo pacote tarifário anunciado pelos Estados Unidos, provocando respostas imediatas da China e um reflexo direto nos ativos digitais.
Na última terça-feira, os ETFs de Bitcoin à vista registraram um fluxo negativo de US$ 326 milhões — o maior em quase um mês, segundo dados da CoinGlass. Esse movimento representa uma reação do mercado ao agravamento das disputas comerciais internacionais, principalmente entre os EUA e a China, que voltaram a protagonizar uma batalha tarifária com efeitos colaterais sentidos até no universo das criptomoedas.
O fundo da BlackRock, um dos mais populares entre os investidores institucionais, teve perdas expressivas: foram US$ 253 milhões retirados em apenas um dia, configurando sua terceira maior saída diária desde o lançamento. Desde sua criação, esse fundo vinha acumulando um volume robusto de aportes, ultrapassando US$ 40 bilhões.
O motivo por trás do abalo foi o endurecimento das medidas comerciais anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump, que preveem tarifas elevadas sobre produtos importados de mais de 180 países. A nova regra, apelidada de “tarifas recíprocas”, entrou em vigor à meia-noite de terça-feira. Em resposta, Pequim adotou contramedidas, elevando suas próprias tarifas sobre produtos dos EUA para até 84%.
A tensão rapidamente contaminou o sentimento do mercado. “As retiradas sinalizam uma estratégia clara de redução de risco pelas instituições”, avaliou Valentin Fournier, analista da BRN.
Ele também observou que o volume mais baixo de negociações em relação ao dia anterior sugere uma postura mais defensiva dos investidores frente à incerteza geopolítica.
O desempenho dos ETFs de Bitcoin tem sido fraco neste início de mês, com apenas um dia de saldo positivo — curiosamente, em 2 de abril, quando Trump fez um discurso inflamatório apelidando o momento de “Dia da Libertação”, e os fundos registraram entradas de US$ 218 milhões. Desde então, a trajetória foi de queda contínua.
Na quarta-feira, o preço do Bitcoin era negociado em torno de US$ 77.600, acumulando uma desvalorização de 2,5% nas últimas 24 horas. No dia anterior, o ativo chegou a tocar US$ 75.100, próximo do menor valor dos últimos cinco meses. O Ethereum também sofreu: os ETFs da criptomoeda registraram saídas de US$ 3,3 milhões, com destaque para o fundo da Fidelity, que liderou a movimentação.
Mesmo em um cenário turbulento, o mercado viu a chegada de um novo produto: o ETF 2x Long Daily XRP, da Teucrium, o primeiro do tipo com alavancagem sobre XRP nos EUA. O lançamento movimentou US$ 5 milhões no dia de estreia, conforme revelou Eric Balchunas, analista da Bloomberg.
A forte retirada de capital dos ETFs de Bitcoin reflete o nervosismo dos investidores diante de um cenário global instável, onde decisões políticas podem impactar rapidamente os ativos digitais. Apesar do crescente interesse institucional por criptomoedas, os eventos recentes evidenciam que o mercado ainda é altamente suscetível a choques externos. Com o acirramento da guerra tarifária entre Washington e Pequim, permanece a incerteza sobre o comportamento dos fundos cripto nos próximos dias — e os investidores seguem atentos a cada novo movimento geopolítico.